Dez anos de guerra no Afeganistão
A partir de 11 de setembro de 2001, um país asiático até então pouco conhecido, o Afeganistão, passou a figurar nos noticiários de todo o mundo. Ele era acusado de abrigar membros da organização terrorista Al Qaeda (responsável pelos ataques terroristas nos EUA ) e também de ser o provável esconderijo do terrorista Osama Bin Laden, arquiteto dos atentados.
Pouco depois da ação da Al Qaeda, o presidente estadunidense na época, George W. Bush, anunciou a “guerra contra o terror”, um compromisso do país de combater as ações terroristas em escala global. As consequências desse programa foram várias, entre elas: a limitação das liberdades individuais dos próprios estadunidenses, prisões arbitrárias, a aprovação do uso da tortura e, em 7 de outubro de 2001, o início da guerra contra o Afeganistão.
Taleban
Quando se fala de guerra contra o Afeganistão não se pode deixar de lado a milícia Taleban (na língua pashtu, falada no país, a palavra significa estudante). O grupo foi formado em 1994, por centenas de estudantes das escolas religiosas rurais localizadas na fronteira do Afeganistão com o Paquistão. Os talebans foram responsáveis por um período de guerra civil no país (1994-1996), tomando o poder em 27 de setembro de 1996 quando dominaram a capital do país, Cabul, e declararam o Afeganistão um Estado islâmico. Entre as medidas mais marcantes desse período está a terrível opressão que se abateu sobre as mulheres, em sua maioria obrigadas a usar a burca e a ficar confinadas em casa, sem acesso a estudo, trabalho, etc.
A guerra
A guerra se iniciou graças a uma exigência dos EUA ao grupo Taleban de entregar o terrorista Osama Bin Laden. Como o grupo se recusou a fazê-lo, os EUA iniciaram, em outubro de 2001, uma ofensiva contra o país, aprovada pelo conselho de segurança da ONU, com diversos objetivos, entre eles: capturar Bin Laden, combater a Al Qaeda e retirar o Taleban do poder.
A ofensiva estadunidense contou com o auxílio de vários países, em sua maioria, membros da Otan. No início, diversas áreas controladas pelo Taleban foram conquistadas e o grupo foi deposto do poder central. Em algumas regiões do país, porém, eles continuaram resistindo. Entre 2003 e 2005, esses grupos cresceram em influência angariando novos adeptos, principalmente no sul do país.

Mercado da cidade afegã de Herat. Foto: isafmedia. U.S. Air Force photo/Tech. Sgt. Kevin Wallace/RELEASED. Licenciado por CC BY 2.0
Os EUA no conflito
Os EUA entraram em uma guerra difícil de sair. A resistência do Taleban contra tropas estrangeiras cresce. Os ataques suicidas ainda são frequentes e, a cada ano, aumenta o número de soldados estadunidenses ou aliados mortos.

Soldados da Isaf (Força de Assistência e Segurança Internacional). Essa missão, liderada pela Otan, é responsável, entre outras tarefas, por combater insurgências no Afeganistão. Foto: isafmedia. Licenciado por CC BY 2.0.
A guerra trouxe um impacto forte aos cofres estadunidenses – basta lembrar que, em 2003, o país também passou a lutar no Iraque. Calcula-se que cada soldado que lute em um desses fronts custe entre 500 mil e 1 milhão de dólares por ano, dependendo das armas que utiliza e do local onde se aloja. Levar água, comida e armamentos para um país de condições geográficas adversas e situado do outro lado do mundo não é algo barato. Este é um dos fatores que contribuiu e segue agravando a crise financeira estadunidense.

Soldados afegãos patrulham o centro de treinamento de Cabul em janeiro de 2011. Na imagem, observa-se a geografia montanhosa da região. Geórgia National Guard. Photo by MC2 Ernesto HernandezFonte, NTM-A PAO. Licenciado por CC BY 2.0

As proximidades de Cabul no inverno. No fundo, o palácio destruído de Darul Alam. Foto: TKnoxB. Licenciado por CC BY 2.0.

Vista aérea de parte da cidade de Herat. Foto: ISAF photo by U.S. Air Force TSgt Laura K. Smith. Licenciado por CC BY 2.0.
E os afegãos
Muitos afegãos se livraram do jugo dos talebans, porém continuam vivendo num país corrupto, com a economia arrasada e com os mais diversos problemas sociais. Dados de 2009 da Acnur (Agência da ONU para refugiados) afirmam que o Afeganistão era o principal país de origem de expatriados do Planeta (2,88 milhões). Um em cada quatro refugiados do mundo era afegão. Outro país que ganhou o segundo lugar nessas estatísticas foi o Iraque (1,78 milhão de refugiados). Em 2003, ele foi invadido pelos EUA (então presidido por George W. Bush) também como parte das ofensivas da guerra contra o terror.

Refugiados afegãos recebem cobertores da ONG Sozo International. Isafmedia. Licenciado por CC BY 2.0
Os dados sobre o Afeganistão são de deixar qualquer um surpreso. Além da morte de civis devido à guerra, o país enfrenta uma das maiores taxas de mortalidade infantil do mundo, bem como de mortalidade materna. Desemprego, altos índices de pobreza e doenças como a tuberculose são comuns. O país não oferece acesso ao estudo para todas as crianças e o trabalho infantil, casamento infantil e outras práticas acabam dificultando ainda mais a situação.
Para poder vencer essa guerra, os EUA precisarão do apoio da população afegã e, para isso, não terão apenas de combater o Taleban mas também trazer justiça social ao país. Uma tarefa hercúlea para uma potência em decadência.
Para saber mais sobre a guerra no Afeganistão:
Quem ganha e quem perde com a guerra do Afeganistão
O homem mais procurado do mundo está morto
Por Priscila Pugsley Grahl de Miranda